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Foto do escritorJosé Tavares

Atenas e Jerusalem no mundo de amanhã




O futuro de Atenas e de Jerusalém será bastante diferente em termos de influência global. As grandes referências mais do que nunca se deslocaram para outros lugares como Pequim, Nova Delhi, Bruxelas, Whashington, Moscovo, Berlim, Paris, Londres, etc., onde se situa o poder político, socioeconómico e financeiro. A cultura, o progresso científico e tecnológico irá estar mais ligado a esses centros do poder. Esta dependência no passado e no presente não era tão determinante. Neste sentido, essas duas cidades ícones da cultura da humanidade poderão perder influência, mas continuarão a brilhar como dois grandes luzeiros a apontar os caminhos do futuro. E é a partir do futuro que deverá continuar a ser pensado e vivido o presente. O passado embora já tenha decorrido também não poderá ser descartado na construção do presente a partir do futuro. Será este o grande afazer de amanhã a que ninguém pode renunciar como parte desta Humanidade que nos habita e nos impele.

Hoje o planeta parece estar numa grande encruzilhada. É urgente tomar grandes decisões para prosseguir. No entanto, os grandes encontros científicos, políticos e culturais com os mais altos representantes dos povos das diferentes regiões do mundo não têm chegado a grandes conclusões nem têm sido assumidas verdadeiramente convicções sérias e de uma maneira realística e concreta. Tudo vai ficando em conversas quase vazias de conteúdo e de concretização efetiva.  O último GOP27, novembro de 2022, parece ter redundado num enorme fracasso apesar de, já para além do tempo estabelecido, ainda se ter querido salvar a face com a atribuição de um subsídio aos países menos desenvolvidos.

O planeta terra parece estar, de facto, em grande stresse. Mas tenho o sentimento de que irá conseguir dar a volta embora vá sofrer, nos próximos milhões de anos, enormes transformações como aconteceu e acontece permanentemente com muitos outros planetas, estrelas, galáxias e outros espaços siderais neste imenso universo. Cuidado e preocupação com o planeta terra, sim, mas não histerismo coletivo como, em muitos casos, parece estar a acontecer. A Atenas e a Jerusalém do passado podem ajudar a ter uma atitude diferente no presente e abrir janelas de esperança para o futuro. Sabemos que o presente não tem sentido desligado passado e terá de ser construído a partir do futuro. Como? Se o futuro ainda não existe e o presente do momento já caiu no passado? É a questão que a Filosofia mantém sempre aberta. Como encontrar resposta para ela? Voltar a Atenas e a Jerusalém?    

Acho que para responder as estas questões, o homem do futuro terá sempre de voltar a Atenas e Jerusalém. Mas irá fazê-lo como aconteceu no passado e acontece no presente com roupagens linguísticas, matemáticas, psicológicas, tecnológicas e sociológicas, filosóficas e teológicas distintas. Será possível antever, de alguma forma, essas roupagens? Em certo sentido sim, porque elas já estão indiciadas no passado mais recente e no presente. Onde e como? Para responder a uma pergunta deste tipo, julgo que teremos de descer a um nível mais nanocientífico e nanotecnológico, o lugar onde, já hoje, as ciências físicas e biológicas se aproximam mais das ciências psicossociais, filosóficas, axiológicas.

Apesar de toda a modernidade e contemporaneidade que Atenas hoje é, como capital da Grécia, a sua grande referência continua a ser a Acrópole, o seu parténon, o seu teatro, a sua ágora e outros sítios são, hoje como foram no passado e continuarão a ser no futuro, aqueles que atraem mais turistas, cientistas, historiadores, artistas, poetas e filósofos dos cinco continentes. É difícil passar por Atenas sem parar algum tempo nesses lugares em que a filosofia como a verdadeira amizade por todos os saberes atingiu tão elevado nível não apenas em relação á época, mas também em relação aos tempos que vivemos e que, com certeza, irá continuar no futuro.

Também em Jerusalém, o templo, o muro das lamentações e o Santo Sepulcro continuam a ser os lugares sagrados maiores para onde convergem não só as 3 grandes religiões monoteístas, mas também toda uma multidão de peregrinos, turistas e curiosos de todas as raças e credos dos 4 cantos do mundo. Apesar das guerras e dos problemas que aí se travaram, se travam e continuarão a travar a cidade santa, por excelência, continuará a ser um grande íman de todos os povos crentes e não crentes que procuram alguém para além da razão, o Deus de Abrão, de Isaac e de Jacob que apenas a fé, a crença poderá tentar atingir. Trata-se de aceitar a existência de Alguém que a razão não compreende, mas em que o ser humano acredita, venera, louva e adora. 

Tenho o sentimento de que o homem do futuro, provavelmente mais inteligente, cordial e evoluído à luz do progresso científico e tecnológico, na linha de pensamento de Atenas e da cordialidade, religiosidade de Jerusalém, assumirá mais a atitude de um adorador, de um crente do que de um cientista ou um filósofo. O fundo do ser humano é, porventura, mais Jerusalém do que Atenas. Já ontem e também hoje, apesar de ateísmos e agnosticismos confessos fomos constatando que cientistas, filósofos e poetas, literatos e outros amigos do saber e da arte, à medida que foram chegando mais fundo no seu olhar sobre o mistério das coisas, das pessoas, da vida e das religiões, das crenças acabaram por reconhecer que a atitude mais sábia seria adorar Alguém  que se encontra para além da razão e continua a  revelar-se como mistério insondável que nos escapa em tudo aquilo que entra, de algum modo, no nosso campo de perceção, explicação e compreensão.

Com recortes distintos esta atitude, julgo, encontrar-se também, de certa forma, nos sábios e filósofos gregos e, designadamente, em Atenas, mas é sobretudo nos patriarcas, nos profetas, nos escritores sagrados e nos poetas de Jerusalém que a vamos poder experienciar. A razão de Atenas e o coração, a fé, a crença de Jerusalém, irão continuar a marcar as culturas e as civilizações do ser humano no futuro como o marcaram no passado. Mas, muito provavelmente, com uma intensidade e um entendimento diferente por que os homens estão a tornar-se mais inteligentes no evoluir da realidade existente e possível. Por isso, são mais humildes e reconhecidos porque olham para a realidade com outros olhos e vão descobrindo que o coração tem razões que a razão desconhece, mas reconhece e possibilitam uma nova atitude mais atenta e aberta a Alguém, Exterior, Infinito e Eterno de onde tudo procede como dádiva de ser, de amor, e que, nessa mesma medida, tudo fundamenta e sustem.

É esta maravilha da cultura e da civilização que o ser humano foi construindo ao longo do tempo que nos mostra o sentido destas duas dimensões do ser humano que Atenas e Jerusalém encarnam e se repercutiram e repercutem nas cidades dos diferentes povos a ocidente e a oriente, a norte e a sul. Será que esta visão é aceitável nos dias de hoje? Ou tudo isto já está de tal maneira diluído que as pessoas nem se apercebem desta realidade? Ou, então, o que seria pior, talvez, não o possam negar, mas as razões de que dispõem e lhe servem de fundamento não são percetíveis nem apelativas para os convencer.

Aos meus olhos, porém, esta realidade continua presente e sê-lo-á ainda mais no futuro. Porque, por mais que a evolução aconteça e as transformações se façam, o homem não poderá existir no tempo sem estas duas dimensões que o ligam, distinguem e sustêm neste universo e no seu exterior embora não saibamos como tudo isto se relaciona e entende. O homem do futuro será mais inteligente e essa maior capacidade de consciência e compreensão irá permitir-lhe ver e abrir-se a novos horizontes da realidade e reconhecer que a sua atitude mais verdadeira e autêntica será a acreditar em Alguém que não pode abarcar nem compreender dada a sua infinitude e mistério, mas simplesmente adorar e louvar, a que chamamos Deus, mesmo aqueles que o negam ou dizem não o poder conhecer e aceitar. Mas este homem do futuro, não sei se já terá existido no passado e no presente em Atenas e Jerusalém. Jesus de Nazaré, o Cristo, o Senhor, que é também Deus, de certa forma, veio complicar ainda mais este mistério para os crentes e os não crentes. No fim de contas, porém, quando procuramos ir ao fundo da realidade, o que encontramos é o mistério quer sejamos conduzidos pela razão, em Atenas, quer nos deixemos iluminar pela fé, em Jerusalém. Não se se pode ir muito mais além do que isto, acho. Pelo que, para já, me fico por aqui.

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